Resenha crítica do Capítulo
“Rupturas e Posições” (pg. 7 – 37) do livro: LOPES, Maura Corcini. Surdez &
Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007
Em
nossa atual cultura, tanto na sociedade, como nas religiões, nas educações, nas
lingüísticas e nas filosofias, o sujeito com surdez é tratado como um todo – o
surdo. A complexa hipoacusia[1] é
a única característica observada nesses sujeitos, e a partir de então é tratado
como aquele sujeito surdo, e não aquele sujeito que tem uma
deficiência/necessidade especial, e que essa é uma das milhões de
características que identificam-no.
Necessidade
especial pode ser entendida como algo que todo indivíduo pode vir a precisar um
dia, seja em uma deficiência temporária (luto, acidente, má disposição, doença
etc.) ou em uma deficiência permanente (intelectual, mental, física etc.); ou
seja, não podemos caracterizar uma pessoa apenas por aquela necessidade
especial, porque estaríamos abandonando as demais qualidades e deficiências que
aquele indivíduo carrega consigo.
Quando
tratamos de um indivíduo com surdez, hoje, mesmo com as diversas discriminações
tanto lingüisticamente como preconceituosas, vemos que está deficiência vem
sendo superada e desenvolvida cada dia mais, e através da comunicação por
sinais, essa comunidade que construiu-se vem sendo implementada na sociedade, e
identificada como uma cultura forte, formada e que se mostra muito além que
apenas uma “cultura surda” como muitos textos, livros e teóricos descrevem.
No
campo educacional, podemos observar muitas pessoas lutando para uma educação
especial não somente para os indivíduos com surdez, mas também para as diversas
necessidades especiais encontradas nas escolas. Sabendo que cada indivíduo é
particular e por isso e formado por identidades que acarretam diversas necessidades
especiais, seria necessário um professor para cada aluno, para trabalhar
individualmente cada aluno com a sua necessidade especial, desta forma
transformando a educação em um meio fortemente excludente da sociedade - o
indivíduo que é diferente dos outros deve ser excluído e “trabalhado”
individualmente com uma “educação especial”.
Desta
forma, novamente, encontramos a descriminação com aquela característica
identitária de um determinado grupo cultural, como exemplo, os indivíduos com
deficiência auditiva, no qual são tratados apenas como indivíduos surdos, e por
isso não podem fazer parte da mesma sociedade que os “ouvintes”.
Lendo
o primeiro capítulo do livro “Surdez e educação” de Mara Corcini Lopes, vejo
que compartilhamos, de certa parte, da mesma opinião a respeito desta cultura,
porém, em alguns momentos vejo que o texto falha ao tratar do indivíduos com
surdez apenas como surdos, contrapondo-se ao que mais adiante ela nos fala da
diferença entre o sujeito surdo e com surdez, utilizando de formas científica
buscar essa dissociação que na verdade é uma questão mais identitária do que
científica. Hoje no mundo existem mais pessoas surdas do que indivíduos com
surdez.
Discordo
também completamente quando a autora diz, utilizando de outros nomes como
Eagleton, “diferença primordial inscrita no corpo surdo”. A surdez não é a
diferença primordial dos indivíduos com deficiência auditiva, e por isso essa
não deve ser uma característica soberana desses sujeitos.
A
comunidade que se comunica através de sinais é igual outra nação que não fala o
idioma que nós sabemos, para conseguirmos conviver com elas precisamos aprender
aquela nova língua. No caso dos indivíduos com surdez, como eles têm uma
necessidade especial, a sociedade deveria ser includente e aprender a se
comunicar com esse grupo cultural.
E
novamente volto a tomar o texto como base, quando a autora nos fala da questão
cultura de identidades e diferença para a compreensão do próprio termo cultural.
Apoio Lopez por tomar essa postura em seu livro, e concordo quando ela nos fala
de tratar a surdez como uma questão cultural e pensando em “grupos de uma mesma
lógica culturalista.”.
Mesmo
a história mostrando-se a favor dessa “cultura surda”[2],
como pudemos notar no item “Estudos Surdos e Educação” do livro de Mara Lopez,
percebemos ainda hoje que a sociedade não se mostra reconhecedora dessa
cultura. Mesmo o reconhecimento de essa comunidade ter sido algo atual no
Brasil, é algo que sempre esteve presente em nossa sociedade, e deveria ser
reconhecida e respeitada pelas pessoas como algo que identifica não somente um
grupo social, mas toda uma nação.
Finalizo
minha resenha trazendo a tona o que vejo como a grande luta dessa classe
cultural, o reconhecimento cultural dos indivíduos com surdez. Serem vistos
como seres que possuem a característica de surdez, porém são cidadãos iguais
aos outros e que merecem o mesmo direito a uma educação igual para todos, e que
trate todos os indivíduos como seres diferentes. Que sejam reconhecidos na
sociedade como um grupo que possuí uma característica em comum, porém que isso
não seja algo e simplesmente o que identificam-no.
[1]
Deficiência auditiva (Perda parcial ou total de audição).
[2]
Termo que considero impróprio para ser utilizado em textos que abordam assuntos
referentes à cultura dos indivíduos com surdez, porém utilizo-o aqui por ser o
termo utilizado erroneamente pelos historiadores e pela própria Mara Lopez em
seu livro em análise.
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