domingo, 22 de abril de 2012

Surdez & Educação


Resenha crítica do Capítulo “Rupturas e Posições” (pg. 7 – 37) do livro: LOPES, Maura Corcini. Surdez & Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007

Em nossa atual cultura, tanto na sociedade, como nas religiões, nas educações, nas lingüísticas e nas filosofias, o sujeito com surdez é tratado como um todo – o surdo.  A complexa hipoacusia[1] é a única característica observada nesses sujeitos, e a partir de então é tratado como aquele sujeito surdo, e não aquele sujeito que tem uma deficiência/necessidade especial, e que essa é uma das milhões de características que identificam-no.
Necessidade especial pode ser entendida como algo que todo indivíduo pode vir a precisar um dia, seja em uma deficiência temporária (luto, acidente, má disposição, doença etc.) ou em uma deficiência permanente (intelectual, mental, física etc.); ou seja, não podemos caracterizar uma pessoa apenas por aquela necessidade especial, porque estaríamos abandonando as demais qualidades e deficiências que aquele indivíduo carrega consigo.
Quando tratamos de um indivíduo com surdez, hoje, mesmo com as diversas discriminações tanto lingüisticamente como preconceituosas, vemos que está deficiência vem sendo superada e desenvolvida cada dia mais, e através da comunicação por sinais, essa comunidade que construiu-se vem sendo implementada na sociedade, e identificada como uma cultura forte, formada e que se mostra muito além que apenas uma “cultura surda” como muitos textos, livros e teóricos descrevem.
No campo educacional, podemos observar muitas pessoas lutando para uma educação especial não somente para os indivíduos com surdez, mas também para as diversas necessidades especiais encontradas nas escolas. Sabendo que cada indivíduo é particular e por isso e formado por identidades que acarretam diversas necessidades especiais, seria necessário um professor para cada aluno, para trabalhar individualmente cada aluno com a sua necessidade especial, desta forma transformando a educação em um meio fortemente excludente da sociedade - o indivíduo que é diferente dos outros deve ser excluído e “trabalhado” individualmente com uma “educação especial”.
Desta forma, novamente, encontramos a descriminação com aquela característica identitária de um determinado grupo cultural, como exemplo, os indivíduos com deficiência auditiva, no qual são tratados apenas como indivíduos surdos, e por isso não podem fazer parte da mesma sociedade que os “ouvintes”.
Lendo o primeiro capítulo do livro “Surdez e educação” de Mara Corcini Lopes, vejo que compartilhamos, de certa parte, da mesma opinião a respeito desta cultura, porém, em alguns momentos vejo que o texto falha ao tratar do indivíduos com surdez apenas como surdos, contrapondo-se ao que mais adiante ela nos fala da diferença entre o sujeito surdo e com surdez, utilizando de formas científica buscar essa dissociação que na verdade é uma questão mais identitária do que científica. Hoje no mundo existem mais pessoas surdas do que indivíduos com surdez.
Discordo também completamente quando a autora diz, utilizando de outros nomes como Eagleton, “diferença primordial inscrita no corpo surdo”. A surdez não é a diferença primordial dos indivíduos com deficiência auditiva, e por isso essa não deve ser uma característica soberana desses sujeitos.
A comunidade que se comunica através de sinais é igual outra nação que não fala o idioma que nós sabemos, para conseguirmos conviver com elas precisamos aprender aquela nova língua. No caso dos indivíduos com surdez, como eles têm uma necessidade especial, a sociedade deveria ser includente e aprender a se comunicar com esse grupo cultural.
E novamente volto a tomar o texto como base, quando a autora nos fala da questão cultura de identidades e diferença para a compreensão do próprio termo cultural. Apoio Lopez por tomar essa postura em seu livro, e concordo quando ela nos fala de tratar a surdez como uma questão cultural e pensando em “grupos de uma mesma lógica culturalista.”.
Mesmo a história mostrando-se a favor dessa “cultura surda”[2], como pudemos notar no item “Estudos Surdos e Educação” do livro de Mara Lopez, percebemos ainda hoje que a sociedade não se mostra reconhecedora dessa cultura. Mesmo o reconhecimento de essa comunidade ter sido algo atual no Brasil, é algo que sempre esteve presente em nossa sociedade, e deveria ser reconhecida e respeitada pelas pessoas como algo que identifica não somente um grupo social, mas toda uma nação.
Finalizo minha resenha trazendo a tona o que vejo como a grande luta dessa classe cultural, o reconhecimento cultural dos indivíduos com surdez. Serem vistos como seres que possuem a característica de surdez, porém são cidadãos iguais aos outros e que merecem o mesmo direito a uma educação igual para todos, e que trate todos os indivíduos como seres diferentes. Que sejam reconhecidos na sociedade como um grupo que possuí uma característica em comum, porém que isso não seja algo e simplesmente o que identificam-no.


[1] Deficiência auditiva (Perda parcial ou total de audição).
[2] Termo que considero impróprio para ser utilizado em textos que abordam assuntos referentes à cultura dos indivíduos com surdez, porém utilizo-o aqui por ser o termo utilizado erroneamente pelos historiadores e pela própria Mara Lopez em seu livro em análise.

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