domingo, 22 de abril de 2012

QUAL É O REAL ESPAÇO QUE O TEATRO OCUPA NO AMBIENTE ESCOLAR?


PIBID-Teatro

LEITE, Allan Luiz Correia – Bolsista de Graduação
FERREIRA, Carolina – Bolsista de Graduação
FURLAN, Murilo – Bolsista de Graduação
LEITE, Vanessa Caldeira – Coordenadora de Área - UFPEL
Palavras-chave: escola, teatro, sensível.
A partir de trabalhos realizados nas escolas participantes do PIBID-UFPEL, observou-se que a linguagem teatral inserida na escola ainda não ocupa o espaço considerado ideal, como uma disciplina curricular. Desse modo, esta instituição continua não proporcionando ao aluno uma prática teatral e uma pesquisa efetiva sobre si mesmo e suas relações corporais, pois a escola, com suas características pragmáticas e objetivos mercadológicos, possui uma estrutura curricular e física muito restrita para as questões da arte-educação. O principal objetivo de se avaliar as formas de recepção da linguagem teatral nas escolas é pensar novas formas de promover o fazer teatral nesse ambiente. Essa reflexão se deu a partir da prática (com os avanços conquistados e os obstáculos percebidos) com oficinas de jogo dramático infantil, embasadas pela teoria de Peter Slade; de contações de histórias, defendidas por Desgranges pela importância para o aprendizado do espectador na captação, significação e releitura das linguagens da narrativa; e de oficinas de leitura dramática e expressão corpóreo-vocal, que trabalharam noções de ritmo e compreensão dos textos, e sobre a capacidade gestual básica como geradora da própria palavra e do comportamento social, apontada por Dario Fo. Almeja-se buscar soluções cabíveis para o teatro na escola, sem torná-lo uma prática apenas pontual e incompleta ou como uma ferramenta didática para outras disciplinas. Mais do que inserir o teatro como uma disciplina curricular, anseia-se por uma cultura de arte-educação que aborde o saber sensível e a experiência estética do aluno, defendida por Duarte Júnior.

Referências:
DESGRANGES, Flávio. A Pedagogia do Espectador. São Paulo: Hucitec, 2003.
DUARTE JR., João Francisco. O sentido dos sentidos. A educação (do) sensível. 4 ed. Curitiba, PR: Criar Edições Ltda., 2006.
FO, Dario. Manual mínimo do ator. São Paulo: Editora Senac, 2004.
SLADE, Peter. O jogo dramático infantil. São Paulo: Editora Summus, 1978.

Relatório Final PIBID


Introdução
Durante o período letivo de Maio de 2010 e Dezembro de 2011, colocou-se em prática o projeto do PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação a Docência) Humanidades da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)[1], que tinha como atividades propostas, ações tanto disciplinares e específicas (Teatro, História, Filosofia, Ciências Sociais, Letras e Pedagogia), quanto ações interdisciplinares, onde todas as áreas das humanidades estavam envolvidas, e que tinham como principal referencial teórico os Parâmetros Curriculares Nacionais.
Essas ações foram desenvolvidas em escolas municipais e estaduais, pelos bolsistas (Coordenadores de áreas, Supervisores de Escolas e Acadêmicos), situadas na cidade de Pelotas-RS, foram elas: Colégio Estadual Dom João Braga, Instituto Estadual de Educação Assis Brasil, Escola Técnica Estadual Professora Sylvia Mello, Escola Municipal De Ensino Fundamental Núcleo Habitacional Getúlio Vargas, Escola Municipal de Ensino Fundamental Ministro Fernando Osório e Escola Estadual Nossa Senhora De Lourdes. Nas escolas estaduais todas as áreas estavam envolvidas menos a Pedagogia, contudo, nas escolas municipais, a Pedagogia trabalhava apenas com a área de Teatro. No total mais de sete mil alunos em todas essas escolas foram beneficiados com o PIBID.
O principal foco deste projeto foi o aluno, futuro professor. Desta forma os objetivos do PIBID estavam voltados à elaboração e desenvolvimento de estratégias que não eram habituais nos cursos de formação inicial de professor, para que assim, a qualidade das ações na escola depois de formadas, e principalmente desses alunos bolsistas possa aumentar em suas Licenciaturas. Através de: identificação da realidade escolar, elaboração de material didático, revisão bibliográfica, seminários de ensino, relatórios, seminários sobre PCN’s, oficinas com alunos, pesquisa em educação, atividades com softwares, etc., os acadêmicos das licenciaturas do PIBID Humanidades puderam de uma forma elaborada planejar, organizar e executar as atividades previstas, e com isso desenvolverem a construção de conhecimento e habilidades na futura profissão e nas atividades acadêmicas.
Neste relatório vou detalhar todas as atividades feitas por mim, Murilo Furlan, durante a execução do PIBID. Primeiramente desenvolverei as atividades disciplinares, da área de Teatro, e logo após as atividades interdisciplinares feitas no Colégio Estadual Dom João Braga. Este relatório consiste na interpretação dos acontecimentos no Programa, e avaliação das atividades exercidas.


Desenvolvimento Atividades Disciplinares

No subprojeto[2], do PIBID Humanidades, de Teatro-Licenciatura, a Coordenadora de área Taís Ferreira (2009) no Plano de Trabalho[3], começa dizendo que: “O objetivo central deste plano de trabalho é propiciar o aprofundamento e a ampliação dos conhecimentos teóricos e vivências práticas experienciados pelos alunos-bolsistas em sua área de atuação, ou seja, o ensino de arte, mais especificamente o ensino/ a pedagogia do teatro”.
Tendo como base a LDB de 1996, criou-se um plano de atividades para os alunos-bolsistas do curso de Teatro-Licenciatura a serem propostas para as quatro escolas estaduais e as duas escolas municipais.

Por meio de práticas sensíveis de produção e apreciação artísticas e de reflexões sobre as mesmas nas aulas de Arte, e os alunos podem desenvolver saberes que os levam a compreender e envolver-se com decisões estéticas, apropriando-se, nessa área, de saberes culturais e contextualizados referentes ao conhecer e comunicar arte e seus códigos. (PCN, 2000, p. 48).
           
A primeira tarefa dos bolsistas do Teatro foi a leitura dos PCN’s tanto do Ensino Médio quanto das séries iniciais e finais do Ensino Fundamental. Criaram-se grupos de estudos, onde esses analisariam os textos lidos, e depois sintetizariam aos demais colegas do grupo. Esse primeiro passo foi fundamental para mim, porque pude ter uma base teórica prévia a respeito da educação pública, e notar que os Parâmetros Curriculares Nacionais querem promover conhecimento de arte aos adolescentes, jovens e adultos das escolas com o interesse por novas possibilidades de aprendizado, de ações, de trabalho com a arte ao longo da vida[4].
Além da leitura de textos teóricos, como LDB; sobre interdisciplinaridade, multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade; os projetos enviados pelo PIBID UFPel no edital da CAPES; sobre transposição didática; e é claro, os PCN’s, assistimos filmes de  temática educacional, focados para a área da educação pública, tanto a brasileira quanto a de outros países.
Ainda na parte de estudos, fomos até a escola para fazermos um levantamento de dados, que foi chamado de diagnóstico. Neste diagnóstico, foram entrevistados vários funcionários da escola, e analisado a situação física da escola, com isso criou-se um documento onde continha o diagnóstico final da escola, com as devidas conclusões a respeito da escola.
No colégio Dom João Braga, além do diagnóstico que cada área fez exclusivamente, criou-se um diagnóstico coletivo de todas as áreas, no qual pudemos perceber a grande disposição do colégio em participar de diversos projetos.[5]
Após a análise do diagnóstico final, o Teatro criou diferentes atividades para levar a essas escolas, a principal delas foi criar espectadores de teatro, música e dança nas escolas, com isso o PIBID firmou parceria com diversas instâncias[6] e projetos da UFPel que fariam apresentações artísticas para essas escolas.
Porém, antes desses alunos, que nunca haviam ido ao teatro, irem assistir a esses espetáculos, os bolsista de teatro criaram uma cartilha informativa, entregue aos professores com atividades propostas para serem trabalhadas com os alunos antes e depois da apreciação do espetáculo.
Na próxima citação podemos ver o quanto esta atividade é de grande importância para inicializarmos as atividades do teatro no âmbito escolar:

De acordo com Piaget, adaptar-se ao meio é construir um conjunto de relações e situar-se entre essas relações, graças a uma atividade de coordenação que implica a descentração e reciprocidade nos pontos de vista. Através da coordenação gradual das ações – denominador comum do sistema de operação da razão e da cooperação interindividual – a criança chega ao pensamento reversível, condição básica e indispensável para participar de fato do círculo de cooperação sociais. (KOUDELA, 2010. P. 117)

Piaget (1977) nos diz que “Tematizar é construir um novo conhecimento para um velho e esquecido saber.”. Com isso concluo que essa atividade de criação de espectador, despertou nos alunos o conhecimento pela comunicação teatral e mostrou que o funcionamento do teatro não é apenas como mensagem, mas sim como estímulo.
Seqüencialmente, as principais atividades do PIBID – Teatro focaram-se nas escolas. No colégio Dom João Braga, eu, juntamente com os acadêmicos Carolina Ferreira, Lucia Berndt e Hélcio Fernandes, criamos oficinas com o intuito de reativarmos o grupo de teatro que existia na escola, chamado “Uó Du Borogodó”.
Os principais objetivos para esse grupo eram: Desenvolver a capacidade de concentração, observação, atenção, imaginação; Estimular expressão corporal e vocal; Praticar improvisações; Proporcionar o contato com o texto dramático; Experimentar os jogos e as técnicas teatrais; Conhecer aspectos da história do teatro; Preparar os alunos para o fazer, o apreciar e o contextualizar através do teatro; e criar uma comunicação, uma relação de prazer e satisfação entre aluno e escola.
Esta atividade durou todo o ano de 2011 da seguinte forma: No primeiro semestre deste ano, criou-se duas turmas que trabalhariam em turno inverso ao horário habitual de aula, por isso uma turma trabalhava com os alunos da manhã (na qual os oficineiros eram os acadêmicos Lucia e Hélcio) e outra turma com os alunos da tarde (na qual eu era oficineiro juntamente com a acadêmica Carolina). Neste primeiro momento pensou-se em trabalhar corpo e voz, improvisação e textos dramáticos com os alunos.
Apesar de algumas falhas e problemas durante a execução das oficinas, como por exemplo, o grande número de falta e de feriados (impedindo a realização das oficinas), foi possível chegar ao objetivo da atividade, e partiu-se para o próximo passo.
Sempre baseados na reativação do grupo de teatro desativado da escola, juntou-se as duas turmas (manhã e tarde) em um único grupo no segundo semestre de 2011. Neste grupo, retomamos os objetivos estipulados no início da atividade, e levamos até os integrantes do grupo, jogos, exercícios de preparação de ator, teorias de teatro, para que assim o grupo crescesse cada vez mais, e torna-se a cada dia um grupo de teatro mais autônomo e enfim seguissem como o grupo de teatro do “Uó Du Borogodó”.
Como o número de integrantes era muito pequeno, no final do ano letivo de 2011, não foi possível conseguir reativar o grupo “Uó Du Borogodó”, porém percebemos que os alunos assíduos eram muito engajados e interessados nas aulas de teatro, e que talvez num prazo maior de tempo fosse possível eles criarem maturidade suficiente para continuarem autonomamente com o grupo de teatro da escola.


Desenvolvimento Atividades Interdisciplinares

Após todas as áreas[7] passarem por um momento inicial de estudos no PIBID, e sentindo um pouco mais preparados para estarem dentro da escola, criaram-se os grupos para cada colégio, e a partir de então, esses grupos se reuniram semanalmente, nas próprias escolas, para análise mais aprofundada do ambiente escolar.
O primeiro passo foi criar um documento geral para todas as áreas, apresentando tanto as qualidades e vantagens quanto os defeitos e desfalques da escola e da educação da mesma.
Através deste grande diagnóstico, no meu caso, do Colégio Dom João Braga, foi possível relatar, por exemplo: Segundo professores, os PCN’s não são utilizados para nortear a formulação de suas aulas; Carga horária considerada insuficiente por todas as áreas devido a grande quantidade de conteúdos programáticos; No que se refere a Biblioteca,  falta organização do acervo, assim como de um funcionário para auxiliar os alunos; Grande número de professores interessados em participar de projetos oferecidos pelo PIBID; grande disponibilidade da escola; Infra-estrutura muito significativa para o desenvoldimento das atividades, principalmente da área do Teatro; A escola esta adaptada perfeitamente ao presente ano, com livros atuais, recursos audiovisuais recentes, laboratório de química e informática com diversos matérias; e, o colégio também possui salas de artes, material esportivo, grêmio estudantil, orientação pedagógica, setor pessoal, setor financeiro, e salas dedicadas aos projetos PIBID e escola aberta[8].
O projeto político pedagógico (PPP) da escola foi feito com base nos parâmetros curriculares nacionais (PCN’s) e sub-dividido  em Linguagens, Códigos e suas tecnologia; Ciências da Natureza, matemática e suas tecnologias e Ciências Humanas e sua tecnologias; porém, a escola não trabalha na sala de aula desta maneira interdisciplinar, e sim disciplinar onde uma matéria não se relaciona com a outra.
Os professores se preocupando com o desempenho dos alunos na escola buscam tirar as dúvidas dos alunos, sempre empenhados em ajudar, porém alguns professores simplesmente aplicam suas aulas e finalizam-nas sem desenvolver mais o assunto com os alunos, “um método alienado de dar aula” segundo um aluno entrevistado na escola.
Para o vestibular, o foco principal é o terceiro ano do ensino médio em que o professor aborda assuntos relacionados com os exigidos para o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM), os professores afirmaram que esse interesse em saber quais os conteúdos do Enem parte dos alunos e não dos próprios professores, o que podemos concluir que os alunos da rede pública também estão motivados a participar dos vestibulares para ingressar em uma universidade federal e/ou estadual.
O nível de evasão na escola é alto segundo a vice-diretora Maria do Carmo em que afirma que isto ocorre por conta da falta de estímulo partida dos educadores, pela repetência dos alunos nos dois primeiros anos do ensino médio e pela necessidade de entrar no campo de trabalho antes mesmo de finalizarem a educação básica.
Pudemos perceber a falta de identificação do aluno com a escola, o que provoca uma inquietude dos alunos nas aulas, acarretando alto nível de desqualificação educacional levando a reprovação e o descaso com a escola.
Como método de tentar evitar este alto nível de evasão na escola, a direção tem como base o artigo 5º inciso III da LDB em que fala sobre “zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela freqüência à escola” e inciso VII “informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos alunos, bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica”.
A escola, dialogando diariamente com a família, procura conhecer o andamento do processo educacional do aluno tanto dentro como fora da escola, podendo desta forma educar o aluno em sua formação humanística e também tendo controle da qualificação do conteúdo que o aluno levara adiante, assim como sua permanência na escola.
Outros aspectos que influenciam positivamente a permanência dos alunos na escola são: a qualidade da merenda e dos livros didáticos “são renovados a cada três anos e os alunos são instruídos pelos professores para o cuidado e preservação do material” (comentário da professora de biologia Magda Rosane Nunes Corrêa em uma entrevista na escola); as formas de punições que tem como base o diálogo entre a escola, família e aluno; temas da realidade do aluno tratados em sala de aula como violência, drogas e sexualidade e a acessibilidade da escola que atende alunos com deficiência física e mental.
Em contrapartida, como aspecto negativo para a escola, o que desmotiva o aluno a ir à aula é o alto índice de violência tanto dentro quanto fora da mesma envolvendo os alunos; a falta de identificação do aluno com a escola e pelo fato de alguns alunos morarem muito distante, problema que a escola enfrenta e que não pode corrigir, pois as instituições não podem remover ou matricular um aluno na escola sem a permissão da central de vagas.
Concluindo, percebemos que um assunto de grande importância que precisaria ser abordado no colégio, era a falta de identificação dos alunos: deles com eles mesmos; dos alunos com os professores; e dos alunos com a escola. Por isso, a partir do inicio de 2011, iniciou-se a elaboração do projeto interdisciplinar do Colégio Estadual Dom João Braga.
O projeto teve como tema: Identidades, Individualidade e Diferenças. Foi intitulado “Quem sou? Onde estou? Identidades da diversidade”
As questões do multiculturalismo e da diferença tornaram-se, nos últimos anos, centrais na teoria educacional crítica e até mesmo nas pedagogias oficiais. Mesmo que tratadas de forma marginal, como “temas transversais”, essas questões são reconhecidas, inclusive pelo oficialismo, como legítimas questões de conhecimento. O que causa estranheza nessas discussões é, entretanto, a ausência de uma teoria da identidade e da diferença. (SILVA. 2009, pág. 73)
Portanto o projeto teve como objetivo geral: “Instigar o reconhecimento, em particular, das diferentes identidades que compõem o ambiente escolar e, em geral, dos mecanismos que formam e mantêm essas relações na sociedade, instrumentalizando o estudante do ensino médio para que construa sua autonomia intelectual seguindo uma postura crítica e reflexiva diante da complexidade do mundo contemporâneo.”[9]
A escrita desse projeto interdisciplinar foi um pouco polêmica no colégio, porque a escola muitas vezes mostrava-se inflexível quanto às propostas de atividades o que desestimulava os alunos. Com a ajuda de alguns professores, foi possível então, concluir a escrita do projeto interdisciplinar do Dom João Braga, que foi apresentado para todos os colegas pibidianos de todas as escolas, em uma Reunião Geral do PIBID-UFPel Humanidades.
O projeto foi dividido em quatro grupos interdisciplinares (Mídia, Teatro, Cinema e Visitação) onde todos esses grupos tinham pelo menos um integrante de cada área das humanidades. Cada grupo tinha um sub-projeto diferente, porém todos tinham o mesmo objetivo e tema do grande projeto interdisciplinar. Essa forma foi adotada para facilitar a metodologia e aplicação do projeto.
Já no segundo semestre de 2011, os projetos foram postos em prática nas escolas. Apesar de algumas dificuldades em organização, tanto dos bolsistas pibidianos (acadêmicos, supervisores e coordenadores) quanto dos funcionários da escola (professores, coordenadores e direção), foi possível realizar a maioria das atividades previstas no projeto interdisciplinar.
Em alguns momentos foi preciso remarcar atividades, mudar horários, mudar o conteúdo ou metodologia das atividades. Porém essas mudanças não afetaram de maneira alguma chegarmos ao objetivo das atividades.
Ainda me questiono se foi possível fazer com que a identidade da escola fosse, não construída, pois “Além de serem interdependentes, identidade e diferença partilham uma importante característica: elas são o resultado de atos de criação lingüística.”, mas porém fabricada “no contexto de relações culturais e sociais. A identidade e a diferença são criações sociais e culturais.” com esse projeto. (SILVA. 2009, p.76)
Mesmo nos últimos momentos na escola, vimos que alguns alunos ainda se mostravam dissociados e se sentindo estranhos dentro daquele ambiente escolar, e por isso se mostravam insatisfeitos e incomodados em estarem na escola. Porém vimos outra parte de alunos, que foram assíduos em todas as atividades propostas pelo PIBID Dom João Braga, que puderam perceber que:
Respeitar a diferença não pode significar “deixar que o outro seja como eu sou” ou “deixar que o outro seja diferente de mim tal como eu sou diferente (do outro)”, mas deixar que o outro seja como eu não sou, deixar que ele seja esse outro que não pode ser eu, que eu não posso ser, que não pode ser um (outro) eu; significa deixar que o outro seja diferente, deixar ser uma diferença que não seja, em absoluto, diferença entre duas identidades, mas diferença da identidade, deixar ser uma outridade que não é outra “relativamente a mim” ou “relativamente ao mesmo”, mas que é absolutamente diferente, sem relação alguma com a identidade ou com a mesmidade (PARDO, 1996, p. 154)


Conclusão

O intuito do PIBID é um trabalho amplo onde as disciplinas existem, porém estariam dentro da interdisciplinaridade sem mostrar onde estaria especificamente cada disciplina. Elas devem existir, porém elas devem reconhecer as outras disciplinas e saber trabalhar com elas. Construir, tomando cuidado para não se perder dentro da sua própria disciplina, tentando juntar-se com as outras. Conhecer, trabalhar e respeitar todas as outras disciplinas.
O PIBID inicia a descentralização do poder disciplinar, construindo um diálogo possível entres todas as disciplinas. A proposta do PIBID, é a mesma do ensino, há muito tempo – o foco do Ensino Médio tem que ser a formação de cidadãos.
Apesar de ser uma realidade distante, porém possível, hoje podemos notar e reconhecer formas de reestruturar a educação brasileira proposta pelos PCN’s e pela LDB há tempos atrás. Percebemos que não é possível mudar a metodologia da escola hoje, de uma hora para outra; ainda é preciso preparar tanto os alunos como os professores para essa nova etapa da educação no Brasil. E é aqui que entra o PIBID, um projeto federal que visa adaptar a escola ao novo método de ensino mais eficaz e eficiente.
Com essa experiência que os acadêmicos de licenciatura tiveram com a realidade presente da escola pública brasileira, pude aprender mais sobre como é a escola/educação no Brasil, e qual é a solução para uma melhoria na metodologia desfalcada do ensino hoje. Fomos ensinados de uma forma, temos que aprender agora uma nova maneira de ensinar, sem fragmentar e separar a aprendizagem.
O principal objetivo do PIBID foi alcançado, pude ter uma melhoria das condições de ensino de arte (teatro) no Ensino Fundamental e Médio, com um aprofundamento e ampliação dos conhecimentos teóricos na minha área de atuação.



Referência Bibliográfica

BRASIL. Ministério da Educação. Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional: Lei nº 9.394. Brasília, 1996.
________. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio – Parte II: Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Secretaria de Educação Fundamental, Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2000.
FERREIRA, Taís. Subprojeto Teatro PIBID UFPel. 2009
KOUDELA, Ingrid. Texto e Jogo, Ed. Perspectiva, 1992.
KRUGER, Verno. Projeto Institucional PIBID UFPel. 2009
PARDO, José Luis. El sujeto inevitable, in: CRUZ, Manuel (org). Tiempo de subjectividad. Barcelona: Paidós, 1996: 133 – 154.
PIAGET, Jean. L’equilibration de: structures cognitive: Paris Presses Universitaires de France, 1977.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais/ Tomaz Tadeu da Silva (org). Stuart Hall, Kathyryn Woodward. 9. Ed. – Petrópolis, RJ: Vozes, 2009.
UBERSFELD, Anne. Para ler o teatro. 1. Ed. - Editora Perspectiva. 2005.


[1]   O projeto do PIBID-UFPel foi criado em 2009 através do edital nº02/2009 – CAPES/DES pelo Coordenador do projeto institucional Verno Kruger do Departamento de Ensino/ Faculdade de Educação para efeito de três níveis de licenciatura aplicáveis: Ensino médio, Ensino Fundamental e Complementar. O título dado ao projeto foi: PIBID UFPEL/5ª. CRE: HUMANIDADES INCENTIVANDO A DOCÊNCIA.
[2] As atividades do PIBID Teatro se baseiam em três eixos: na produção (fazer artístico), na recepção (apreciação estética) e na contextualização (aprendizado reflexivo acerca de conteúdos sócio-históricos da área) do teatro, tanto aos alunos envolvidos no projeto, bem como da comunidade escolar e as demais comunidades que a cercam. Este subprojeto tem como característica a não-intenção de estabelecer dentro das escolas academias de atores profissionais, mas de enraizar o teatro como linguagem conhecida e compreendida dos alunos-cidadãos que freqüentam as escolas pelotenses.
[3] Plano de trabalho incluso no sub-projeto de licenciatura em TEATRO-LICENCIATURA escrito pela coordenadora de área do subprojeto Taís Ferreira no Edital Nº02/2009 – CAPES/DEB. PIBID ANEXO II – Detalhamento de Subprojeto (Licenciatura)
[4] Frase construída através de trechos retirados do PCN – Ensino Médio (BRASIL, 2000, p. 46).
[5] No tópico: Desenvolvimento Atividades Interdisciplinar, vou relatar mais sobre este assunto.
[6] Os parceiros do PIBID – Teatro foram: Quinteto de Cordas Guitarreiria, Núcleo de Teatro UFPel e Tatá Dança-Teatro. Essa ação gerou um projeto de extensão chamado Escolas Pibidianas no Teatro.
[7] Teatro, Filosofia, Ciências Sociais, História, Letras e Pedagogia
[8] Em 2003, trazendo um grande apoio as atividades especiais, que desde o ano 2000 aconteciam aos sábados a tarde no colégio, surge o Projeto “Escola Aberta para Cidadania”. Trata-se de uma proposta da Secretaria da Educação do Governo do RS, em parceria com a UNESCO, com o objetivo de abrir as escolas públicas estaduais aos finais de semana, com o propósito de desenvolver uma série de atividades desportivas, artísticas e sócio culturais com as crianças, os jovens e familiares do entorno escolar, oportunizando, neste espaço, lazer, recreação e cultura. A “Escola Aberta” no Dom João Braga é uma realidade muito bem sucedida. Os cursos livres oferecidos pela Escola Aberta permitem que a comunidade conquiste subsídios de conhecimento para estarem preparados para alcançar um patamar mais alto dentro da sociedade.
[9] Trecho retirado do Projeto Interdisciplinar do Colégio Dom João Braga – PIBID Humanidades.

O Teatro de La Candelaria.


Em junho de 1966, um grupo de artista e intelectuais independentes fundou a Casa de La Cultura, em Bogotá na Colombia, onde aconteciam exposições de trabalhos artísticos de artes plásticas, cênicas, do cinema, entre outras. Santiago Garcia, o diretor da instituição, após uma viagem para a Europa, percebeu a necessidade de constituir um grupo de produções coletivas, a exemplo de Ariane Mnouchkine, na França. A Casa de La Cultura passou, então, a se chamar La Candelaria.
Santiago Garcia se formou em Arquitetura, além de ser diretor e encenador foi também ator de televisão, cinema e teatro. Estudou em Paris, Londres, Veneza e Berlim e foi o criador do grupo de teatro El Búho (teatro do absurdo). É considerado por muitos críticos e estudiosos como um encenador culto, explorador, curioso, entendedor de seu tempo e aberto a novas idéias.
Os passos de criação do grupo La Candelaria são: O grupo cria um plano de conteúdo e de expressão, onde são criadas substâncias de conteúdo, formas de conteúdo, expressões e linhas argumentais; o grupo busca, então, motivações, através de pesquisas científicas; os atores improvisam sobre o material recolhido e definem linhas temáticas e linhas argumentais; em seguida, o grupo faz uma montagem operacional e textual; e, por último, fazem uma improvisação analógica para trabalharem sobre os elementos metafóricos e procedimentos distintos, dando o acabamento à obra cênica.
Garcia utiliza a meditação profunda para a escolha do tema, sendo contra a ideologia na obra de arte em geral (a rapidez na tomada de decisão), ele cria uma imagem cênica (relação entre o público e a obra de arte) carregada de sentido através da análise textual (cotextual, intertextual e contextual).
“Arte é um meio que dispõe a sociedade para o conhecimento, a apreensão e a transformação da realidade.” GARCIA, Santiago, 1988, p.66.

Surdez & Educação


Resenha crítica do Capítulo “Rupturas e Posições” (pg. 7 – 37) do livro: LOPES, Maura Corcini. Surdez & Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007

Em nossa atual cultura, tanto na sociedade, como nas religiões, nas educações, nas lingüísticas e nas filosofias, o sujeito com surdez é tratado como um todo – o surdo.  A complexa hipoacusia[1] é a única característica observada nesses sujeitos, e a partir de então é tratado como aquele sujeito surdo, e não aquele sujeito que tem uma deficiência/necessidade especial, e que essa é uma das milhões de características que identificam-no.
Necessidade especial pode ser entendida como algo que todo indivíduo pode vir a precisar um dia, seja em uma deficiência temporária (luto, acidente, má disposição, doença etc.) ou em uma deficiência permanente (intelectual, mental, física etc.); ou seja, não podemos caracterizar uma pessoa apenas por aquela necessidade especial, porque estaríamos abandonando as demais qualidades e deficiências que aquele indivíduo carrega consigo.
Quando tratamos de um indivíduo com surdez, hoje, mesmo com as diversas discriminações tanto lingüisticamente como preconceituosas, vemos que está deficiência vem sendo superada e desenvolvida cada dia mais, e através da comunicação por sinais, essa comunidade que construiu-se vem sendo implementada na sociedade, e identificada como uma cultura forte, formada e que se mostra muito além que apenas uma “cultura surda” como muitos textos, livros e teóricos descrevem.
No campo educacional, podemos observar muitas pessoas lutando para uma educação especial não somente para os indivíduos com surdez, mas também para as diversas necessidades especiais encontradas nas escolas. Sabendo que cada indivíduo é particular e por isso e formado por identidades que acarretam diversas necessidades especiais, seria necessário um professor para cada aluno, para trabalhar individualmente cada aluno com a sua necessidade especial, desta forma transformando a educação em um meio fortemente excludente da sociedade - o indivíduo que é diferente dos outros deve ser excluído e “trabalhado” individualmente com uma “educação especial”.
Desta forma, novamente, encontramos a descriminação com aquela característica identitária de um determinado grupo cultural, como exemplo, os indivíduos com deficiência auditiva, no qual são tratados apenas como indivíduos surdos, e por isso não podem fazer parte da mesma sociedade que os “ouvintes”.
Lendo o primeiro capítulo do livro “Surdez e educação” de Mara Corcini Lopes, vejo que compartilhamos, de certa parte, da mesma opinião a respeito desta cultura, porém, em alguns momentos vejo que o texto falha ao tratar do indivíduos com surdez apenas como surdos, contrapondo-se ao que mais adiante ela nos fala da diferença entre o sujeito surdo e com surdez, utilizando de formas científica buscar essa dissociação que na verdade é uma questão mais identitária do que científica. Hoje no mundo existem mais pessoas surdas do que indivíduos com surdez.
Discordo também completamente quando a autora diz, utilizando de outros nomes como Eagleton, “diferença primordial inscrita no corpo surdo”. A surdez não é a diferença primordial dos indivíduos com deficiência auditiva, e por isso essa não deve ser uma característica soberana desses sujeitos.
A comunidade que se comunica através de sinais é igual outra nação que não fala o idioma que nós sabemos, para conseguirmos conviver com elas precisamos aprender aquela nova língua. No caso dos indivíduos com surdez, como eles têm uma necessidade especial, a sociedade deveria ser includente e aprender a se comunicar com esse grupo cultural.
E novamente volto a tomar o texto como base, quando a autora nos fala da questão cultura de identidades e diferença para a compreensão do próprio termo cultural. Apoio Lopez por tomar essa postura em seu livro, e concordo quando ela nos fala de tratar a surdez como uma questão cultural e pensando em “grupos de uma mesma lógica culturalista.”.
Mesmo a história mostrando-se a favor dessa “cultura surda”[2], como pudemos notar no item “Estudos Surdos e Educação” do livro de Mara Lopez, percebemos ainda hoje que a sociedade não se mostra reconhecedora dessa cultura. Mesmo o reconhecimento de essa comunidade ter sido algo atual no Brasil, é algo que sempre esteve presente em nossa sociedade, e deveria ser reconhecida e respeitada pelas pessoas como algo que identifica não somente um grupo social, mas toda uma nação.
Finalizo minha resenha trazendo a tona o que vejo como a grande luta dessa classe cultural, o reconhecimento cultural dos indivíduos com surdez. Serem vistos como seres que possuem a característica de surdez, porém são cidadãos iguais aos outros e que merecem o mesmo direito a uma educação igual para todos, e que trate todos os indivíduos como seres diferentes. Que sejam reconhecidos na sociedade como um grupo que possuí uma característica em comum, porém que isso não seja algo e simplesmente o que identificam-no.


[1] Deficiência auditiva (Perda parcial ou total de audição).
[2] Termo que considero impróprio para ser utilizado em textos que abordam assuntos referentes à cultura dos indivíduos com surdez, porém utilizo-o aqui por ser o termo utilizado erroneamente pelos historiadores e pela própria Mara Lopez em seu livro em análise.