terça-feira, 13 de setembro de 2011

Ordem e Progresso para quem?


Saudamos primeiramente os alunos, professores e funcionários do curso de Teatro-Licenciatura da Universidade Federal de Pelotas!
Aqui desse lado da ribalta: o Centro Acadêmico do Teatro da UFPel.
Começamos essa nossa comunicação a partir de duas premissas: a primeira relacionada à arte como liberdade de expressão, mas organizadamente planejada e consciente, e a segunda uma máxima teatral - o teatro como uma atividade de grupo.
Já ouvimos muitas vezes de nossos professores, e nos livros teóricos, que o teatro é feito em grupo, por pessoas, pelas relações delas, dentro de situações e contextos, convivendo com suas diferenças. A teoria nunca é tão saborosa na prática, encontramos exemplos dessa realidade nas diversas instâncias representativos do curso de teatro, tanto docentes como discentes.
Neste semestre a primeira turma do Curso de Teatro estará se formando, o Centro Acadêmico do curso surgiu, praticamente, no inicio desse ano. Dos poucos que começaram o movimento, menos ainda restam.
Os acadêmicos do curso parecem estar divididos em subgrupos: os grandes grupos dos anos em que entraram no curso e em subgrupos dentro de cada turma. O que é normal, mas falha na comunicação entre as turmas que se encontram e trocam informações em poucos momentos do ano. Os alunos não se vêem, não se falam, não se comunicam, não se unem e não há movimentação artística e política.
Essa mesma característica é vista nas salas de aulas, no espaço dedicado ao professor. Mesmo os alunos não estando dentro de reuniões, entre professores ou nos meios de comunicação entre eles, é visível uma falta de comunicação e união entre o corpo docente. União aqui não é grupo de amigos reunidos para se divertir, união aqui é grupo de pessoas envolvidas pela mesma causa. Causa esta que é o desenvolvimento e crescimento do Curso de Teatro Licenciatura.
Muitos professores mantém tatuados em suas línguas frases que colocam a culpa de falta de certos materiais de trabalho, espaço físico, entre outros, como sendo culpa exclusiva da máquina administrativa da UFPel.
Outros tratam o aluno como uma simples carga-horária. Afinal, é fácil ficarmos sem aula para professores poderem ir a eventos dando continuidade a sua formação acadêmica e artística, pois é importante eles faltarem uma aula para fazer uma oficina, ou participar de um evento, ou ver uma peça, ou seja, entrar em contato com o teatro pós-dramático e depois citá-los a plebe acadêmica numa sala de aula. Agora é claro, é horrível para um aluno faltar um dia de aula para ir ver um espetáculo teatral - ainda mais se pensarmos na agitada vida artística teatral de Pelotas - para se formar como espectador, ou critico teatral, ou como diretor, participar de um evento e entrar em contato com o fazer teatral de outras partes do Brasil hoje.
 Na primeira semana de Setembro, várias turmas ficaram sem aula. Motivo: vários professores foram a ABRACE e a programação do Porto Alegre em Cena. Isso nos faz levantar algumas questões: o que se considera como uma hora aula? Só adquirimos conhecimento na sala de aula, ou como espectadores? Ou seja, me torno professor em contato com uma peça teatral ou com um slide na parede fria? O teatro que fazemos é em grupo? Se estudamos uma nova pedagogia do teatro, dentro do nosso tempo, quando é que vamos colocar essa pedagogia no nosso próprio curso? Pois a escola Positivista está pedindo um sinal de fábrica na parede de nosso curso para entrarmos, e outro sinal para sairmos. É o que falta.
Não vemos a totalidade dos professores engajados na construção do curso, vemos poucos professores querendo crescer e fazer crescer o teatro e o curso nesta cidade: Pelotas. O teatro é aqui e agora, e no nosso caso, não é em nenhum outro lugar do Brasil. Só se repercutirá lá pra fora se estiver vivo aqui.
O grupo docente do curso de teatro é grande, se estivessem todos com um foco, ou com um diálogo realmente aberto entre si, o curso ganharia com isso. E o curso são os alunos e os professores, repercutindo na sociedade. Debates sobre pedagogia, sobre metodologias postas nas salas de aula, modos de avaliação, condutas de relacionamento entre professores e alunos, não são discutidos no curso, e nem mesmo entre os professores. No final, chegamos ao que está faltando no curso inteiro: DIALOGO EM GRUPO.
O mundo é individualista, a contemporaneidade é abafadora e efêmera. Como manter o teatro vivo, se não somos liberados nem para vermos apresentações de nossos próprios colegas? E porque não podemos falar dos trabalhos de nossos colegas? Porque algumas pessoas fazem teatro em si, e outras não fazem?
O CAT quer que o curso cresça. Não se individualize mais ainda, se mantendo nessa ORDEM de horários específicos e sem liberdade, onde não há nenhum PROGRESSO. E progresso aqui está relacionado a Work In Progress: trabalho em progresso, em processo. Não estacado e individual. 





Atenciosamente, 
Coordenadoria Geral
Centro Acadêmico de Teatro
Teatro-Licenciatura UFPel 

6 comentários:

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  2. O texto levanta questões interessantes, e a que mais me chama a atenção é a que ficou em evidência: A falta de igualdade no trato de questões de formação e possibilitação de formação tanto dos alunos, quanto dos professores.
    É fato que os alunos são liberados para assistir espetáculos de "maior repercussão" quando estes vem para a cidade, mas isso por que os professores também estarão presentes nestes espetáculos.
    Se um aluno quisesse ir à "ABRACE" essa semana ele conseguiria, era só ir participar do evento nos dias em que o professor que lhe dá aula, também estivesse no evento.
    Mas e se o aluno tem outra linha de estudo, se o aluno quer assitir alguma das tantas palestras que ocorrem pela UFPel?
    Ele é obrigado a escolher entre sua presença na lista de chamada da palestra ou da aula. Já que os professores estarão em aula normalmente e eles não vão aceitar a atividade de real interesse do aluno como hora/aula.
    Isso sem mencionar que escolhendo não ir a aula o aluno não fica apenas com falta, mas perde também nota, já que muitos professores consideram a frequência como método avaliativo.
    Do meu ponto de vista, os 25% de ausência permitidos ao aluno não deveriam prejudicá-lo, já que é um direito. E acredito também que se é permitido aos professores irem a eventos e depois simplesmente repor a aula, e cobrar trabalhos, ou seja, sem liberar o aluno da aula em que ele está em evento, não creio que quando um aluno falta para algum evento, ele deveria ter sua ausência encaixada nestes 25%. Sugiro aqui então que se tenha além dos 25% mais uma cota específica para que o aluno não compareça a aula e sim a algum evento, sendo sua ausência encaixada ali somente apresentação de algo que comprove e que seja útil na sua formação. Até mesmo por que os 25% é uma porcentagem que engloba também os imprevistos e questões pessoais, não só de formação.

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  3. Eu pessoalmente vejo uma falta de consideração de todos os responsáveis pelo curso para com as necessidades dos alunos. Vou citar aqui apenas um exemplo pois foi o que me incomodou diretamente:
    A PROIBIÇÃO DE BICICLETAS NO INTERIOR DO PRÉDIO DO TEATRO enquanto o aluno está realizando atividades do curso.
    Pois bem, talvez eu seja o único que ainda se utiliza da bicicleta para chegar ao curso em determinadas ocasiões, mas sei que outros colegas também já utilizaram deste meio de transporte.
    É fato dado que temos aulas em diversos pontos da cidade, é fato também que o curso exige que o aluno faça cadeiras extras em outros cursos que estão mais espalhados ainda por Pelotas, e o último fato que cito é o de que nem sempre é possível ao aluno pagar condução para se locomover, nem sempre essa condução está no horário de sua aula e nem todos os alunos tem auxílio-transporte para utilizar.
    Se o aluno não pode sequer utilizar a bicicleta para se locomover já que não existe local para que ele deixe sua bicicleta enquanto está em aula, como ela faz para estar em aulas situadas em diferentes pontos geográficos em um curto espaço de tempo sem depender do transporte coletivo?
    Os professores possuem carro e tem maior facilidade de locomoção, os alunos são pouquíssimos os que dispõe de tal facilidade.
    Que não se deixe as bicicletas dentro do prédio, mas que se providencia um bicicletário e frente ao prédio, então, para que a bicicleta fique presa de forma segura. O curso sequer precisa se responsabilizar por perdas ou danos, apenas possibilitar que o alunos tenha condições.
    Isso por que não acho que seja necessário discorrer sobre o fato de que estudamos em uma licenciatura que estuda o corpo e que com essa media proibitiva nega incentivo e ainda atrapalha quem quer manter uma prática saudável e ecologicamente correta. Quesitos que ao meu ver um professor precisa pensar também, para poder formar cidadãos conscientes quando estiver lecionando para jovens em formação.

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  4. A respeito da falta de real atenção com a formação do aluno, mais que apenas o discurso que é bem latente para todos, eu paro por aqui pedindo apenas maior coerência entre discurso e prática do nosso corpo docente.

    Quanto a coletividade do fazer teatral e a maciça e evidente individualização dos elementos que formam o curso, penso que partimos de problemas anteriores. Problemas de formação cidadã dentre todos, e que este problema é - infelizmente - o grande problema do nosso tempo.
    A política já não interessa, o desenvolvimento de grupos que não os nossos, já não interessa, tudo aquilo que não nos trás benefícios diretos e imediatos não nos interessa.
    E digo isso em relação aos discentes do curso, pois vejo nos professores uma unidade bem estruturada e capaz de levar nossas lutas adiante, seja com apoio, seja com orientação. Isso independente da visão de cada um, que ainda bem, é bem diversificada.
    Mas eles são poucos e não vão fazer por nós.
    A quantidade de pessoas forasteiras no curso cresceu em demasia, a falta de algo palpável em comum entre os alunos, um produto ou produção que dê orgulho para quem falar EU FAÇO TEATRO NA UFPel... Isso tudo faz com que as idéias sejam muitas e desorganizadas. Os grupos que fincam seus pés em objetivos comuns, se organizam e fazem, mas logo depois se desorganizam e se esvaiem. MAS ELES FAZEM.
    Nem para as "festas" esta integração não existe, quem dirá para assuntos sérios.
    Isso vai ter que ser construído, e o CAT terá papel fundamental nessa construção, e não apenas convocando, mas incentivando e propiciando possibilidades.

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  5. PS: a possibilidade dos alunos frequentarem espaços de debates durante sua formação ajudaria bastante pois são espaços onde as idéias entram em embate, e se organizam, achando suas pares e suas díspares.

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  6. Assim, muuuuiiiittttoooooooo bem dito!!
    Acho que coerência é a palavra que resume todas as questões levantadas, é preciso que se tenha, é preciso que se crie.

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